SANTIFICAÇÃO
Uma Vida Marcada Por Boas Obras

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“…tendo conduta exemplar no meio dos gentios, para que, quando eles os acusarem de malfeitores, observando as boas obras que vocês praticam, glorifiquem a Deus no dia da visitação.”

1 PEDRO 2:12

PRÉVIA DO CAPÍTULO

A santificação é o processo contínuo na vida de um crente quanto ao morrer para o pecado e o viver em retidão. O Espírito Santo desempenha um papel importante, tanto na justificação quanto na santificação. Por um lado, um indivíduo salvo, foi batizado no Espírito por meio da fé salvadora. Aqueles que têm o Espírito Santo são ordenados a serem “cheios do Espírito” e exibir o “fruto do Espírito”. O Espírito Santo também fornece dons espirituais para que os cristãos possam ser equipados para servir. As duas ordenanças praticadas pelos cristãos são o batismo na água, e a participação na comunhão com o corpo da igreja local.

Fé sem obras é morta,” Joan, uma mulher de meia-idade, disse-me numa tarde quente de verão. “Por que os cristãos ignoram a importância de fazer boas obras?”

Ela me abordou na calçada do lado de fora do templo SUD de Ogden, durante um evento de visitação, em agosto de 2014. Sempre que a Igreja SUD remodela um templo existente ou constrói uma nova estrutura, o público é convidado, (normalmente por um período de duas a cinco semanas), para ver o interior do edifício antes que ele seja fechado para todos, exceto aos Santos dos Últimos Dias que possuam uma recomendação válida para entrá-lo.     

Joan havia decorado a essência de Tiago 2:20 e 26, que na versão ARC afirma, “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem obras é morta?…Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” Sua voz permaneceu determinada e segura.

“Você está citando o segundo capítulo do livro de Tiago”, disse. “E devo dizer que estou totalmente de acordo com Tiago.”

Ela parecia surpresa por eu não só conhecer a referência bíblica, mas também concordar com o que Tiago escreveu. Mas eu precisava fornecer-lhe o contexto completo.

“Tiago disse que uma fé verdadeira será seguida por boas obras,” eu disse. “Deus proclamou que Seus seguidores devem ser santos porque Ele é santo”.1 Em seguida, citei Efésios 2:8-9, que discutimos brevemente no capítulo anterior deste livro. Diz que é pela graça que alguém é salvo, pela fé e não pelas obras. Em vez de parar com o versículo 9, continuei com o versículo 10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”

A SALVAÇÃO VIVIDANA VIDA DO CRENTE

Como discutido no capítulo anterior, a justificação se dá, de uma vez por todas, por meio da fé. A retidão de Deus é imputada ao crente através da obra feita na cruz, por Jesus. Romanos 5:15 diz, “Mas o dom gratuito não é como a ofensa. Porque, se muitos morreram pela ofensa de um só, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.” O versículo 18 acrescenta que “por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos para a justificação.” O crente que é perdoado de todos os pecados — passados, presentes e futuros — recebe a vida eterna.

Se o perdão é um negócio fechado, então alguém como Joan pode assumir que as boas obras não são importantes para o cristão. As boas obras não são opcionais na vida do cristão, no processo conhecido como santificação, pois os cristãos não foram chamados para pecar impunemente.

Como ordena Colossenses 3:2-3, “Pensem nas coisas lá do alto, e não nas coisas da terra. Porque vocês morreram, e a vida de vocês está oculta juntamente com Cristo, em Deus.” Em 1 Pedro 2:24, vemos que Jesus sacrificou-se na cruz para que nós “mortos para os pecados, vivamos para a justiça.”  

A ideia de boas obras ser a resposta do cristão a Deus, faz sentido quando o valor da expiação é compreendido. Quando o é, Timothy Keller escreve que,

“agora devemos duplamente a Ele de usar (nossa salvação), para agradá-Lo e imitá-Lo. Devemos isso a Ele como nosso Criador, uma vez que Ele nos projetou e possui, e por isso Ele tem tanto a sabedoria de saber como devemos viver quanto o direito de exigir que vivamos dessa maneira. Por outro lado, agora também devemos a Ele como nosso Redentor, pois queremos agradar àquele que nos salvou a um custo tão imensurável.”2

Tal mentalidade requer autoavaliação. R.C. Sproul explica:

“Precisamos auditar regularmente nossos sistemas de valores para ver se nossos valores estão alinhados com os valores de Deus. Somos chamados a ter a mente de Cristo. Isso significa que devemos amar o que Jesus ama e odiar o que Jesus odeia. Buscamos o que Jesus busca e fugimos do que Jesus foge. É disso que se trata a vida do cristão.”3

Embora os cristãos tenham sido separados para serem santos, isso não deve ser mal-entendido para significar que é possível tornar-se perfeitamente obediente nesta vida. Enquanto ainda lutam contra o pecado, os cristãos são chamados a se tornar a “obra” de Cristo. É uma falsa noção, escreveu J.I. Packer, que “uma vez que nos tornamos cristãos, o poder de Deus em nós cancelará imediatamente nossos defeitos de caráter, e tornará toda a nossa vida num navegar tranquilo. Isso é tão antibíblico que chega a ser positivamente desonesto.”4

Ao considerar o segundo capítulo de Efésios, é importante notar que Paulo estava se dirigindo aos cristãos que pensavam, erroneamente, que boas obras eram necessárias para ganhar o favor de Deus. O apóstolo, então, teve que enfatizar que a salvação “não era por obras”. Tiago, por outro lado, estava falando para um grupo de crentes que pensavam que as boas obras não eram necessárias por causa da graça de Deus. Essa suposição também está errada, disse Tiago, porque as boas obras na vida de um crente devem ser evidentes para observadores neutros. O pastor alemão, Dietrich Bonhoeffer, comparou Paulo e Tiago:

“São Tiago não está preocupado em negar a justificação apenas pela fé; em vez disso, ele está exortando o crente a não se contentar com os louros da fé, mas a prosseguir com a obra da obediência. Esta é à sua maneira de conduzi-lo à humildade genuína. Ambos os apóstolos querem que os cristãos tenham uma dependência genuína e completa da graça, e não de suas próprias realizações.”5

Filipenses 2:12 diz: “Assim, meus amados, como vocês sempre obedeceram, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvam sua salvação com temor e tremor”, observe como Paulo dissepara o crente “desenvolver sua própria salvação”, não “trabalhar para” obter a salvação. Paulo continuou dizendo que “porque Deus é quem efetua em vocês tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” É Deus quem trabalha na vida do crente para fazer boas obras. Através do poder do Espírito Santo, então, que boas obras são realizadas na vida do crente.

O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA SALVAÇÃO

Para entender a importância do papel do Espírito Santo na salvação, vários termos precisam ser compreendidos. O primeiro é o batismo do espírito. Nos quatro relatos do Evangelho (Mateus 3:11; Marcos 1:8; Lucas 3:16; João 1:33), João Batista contrastou seu batismo com o batismo do Espírito, que foi originalmente previsto em Joel 2:28-32 e previsto novamente por Jesus em Atos 1:4-5. Os judeus que compunham a igreja primitiva receberam todo o poder do Espírito Santo em Pentecostes em Atos 2:1-13, enquanto os crentes gentios receberam esse derramamento em Atos 10:44-45.

O Espírito Santo não é meramente uma força, nem um ser impessoal. Em vez disso, Ele foi enviado por Jesus, conforme prometido em João 14:16-17: “E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre: é o espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Vocês o conhecem, porque ele habita em vocês e estará em vocês.”

Como Jesus prometeu em João 16:13, “Porém, quando vier o Espírito da verdade, ele os guiará em toda a verdade. Ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que ouvir e anunciará a vocês as coisas que estão para acontecer.” De fato, ninguém pode aceitar Jesus como Senhor “exceto no Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Em 1Coríntios 2:9-10 lemos: “‘Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Deus, porém, revelou isso a nós por meio do Espírito.” O versículo 12 adiciona, “E nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.”

Essa habitação acontece quando uma pessoa se torna crente, como explicado por Packer:

“O objetivo de Deus é para que todos os cristãos desfrutem da plena bênção interior de Pentecostes (não necessariamente dos adereços exteriores, mas a comunhão de coração com Cristo, e tudo o que flui disso), desde o momento de sua conversão…para pessoas como você e eu, que nos tornamos cristãos cerca de dois mil anos após Pentecostes, o programa revelado é que o gozo mais pleno da nova ministração do Espírito deve ser nosso a partir da palavra “vá”. Isso já está claro no Novo Testamento, onde Paulo explica o batismo do Espírito como algo que aconteceu com os Coríntios—e, por paridade de raciocínio, acontece com todos os outros convertidos pós-pentecostais—na conversão.”6

Paulo disse aos crentes de Corinto que o Espírito Santo entrou em suas vidas, apesar de suas dissensões (1 Coríntios 1:10), carnalidade (3:1-3), desunião (6:1-8), e embriaguez na comunhão (11:21), entre

muitas outras falhas morais. Em outras palavras, eles não se qualificaram para a salvação com base em suas boas obras. No entanto, na conversão, o cristão recebe uma dose completa do Espírito Santo que, como diz 2 Coríntios 5:5 (NIV), é a “garantia” do perdão dos pecados (Gálatas 3:1-5; 4:6). Romanos 5:5 afirma, “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado.” De acordo com o ensino bíblico, quem não possui o autêntico Espírito de Deus não é um indivíduo salvo e não deve ser considerado um cristão.

Citando Romanos 8:3-4 e sua referência a como “a exigência da lei se cumprisse em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo ao Espírito,” John Piper escreve que mais do que apenas uma promessa futura do céu foi cumprida na justificação: “Cristo cumpriu por nós a condenação que a lei exige para que ele possa acolher em nós a santificação que a lei comanda…Quando Deus colocou Cristo em nosso lugar condenado, Ele fez isso não apenas para garantir o céu, mas para assegurar a santidade. Ou, mais precisamente, não apenas para garantir nossa vida no paraíso, mas também para garantir nosso amor pelas pessoas.”7 Em outras palavras, essas boas obras realizadas pelos cristãos só são possíveisatravés da obra do Espírito. Essas obras são impossíveis sem o poder do Espírito Santo.8

Um segundo termo bíblico é o enchimento do Espírito, que é referenciado em Efésios 5:18. As palavras gregas originais significam literalmente “estar cheio do Espírito”. Em Atos 4, Pedro estava “cheio do Espírito Santo” quando ele falou com os líderes judeus, depois que ele e João foram presos (v. 8). Quando foram liberados, os dois relataram aos outros fiéis o que havia acontecido (v. 23). O versículo 31 diz, “Todos ficaram cheios do Espírito Santo” ao adorarem a Deus. Referindo-se aos crentes em quem Cristo “mora em seus corações através da fé,” Paulo pede a Deus em Efésios 3:18-19 para dar-lhes força para compreender “qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus.”

Ao contrário do batismo do Espírito, o enchimento do Espírito Santo é uma busca contínua. Não estar cheio do Espírito não significa que o crente perdeu a salvação. Enquanto os cristãos vivem suas vidas, eles devem ser constantemente reabastecidos como um carro que precisa de gasolina ou um ser humano que precisa de comida. Só porque uma pessoa jantou ontem ou encheu o tanque de gasolina na semana passada não significa que isso não precise ser repetido.  Assim como um celular que não é carregado há três dias, assim também o cristão que não está conectado à fonte espiritual. Quando cheio do Espírito de Deus, o cristão é capacitado para fazer coisas incríveis. Wayne Grudem escreve:

“Alguém pode objetar que uma pessoa que já está “cheia” do Espírito Santo não pode se tornar mais plena—Se um copo está cheio de água, não pode ser mais água colocada nele. Mas um copo de água é uma analogia pobre para nós como pessoas reais, pois Deus é capaz de nos fazer crescer e ser capaz de conter muito mais da plenitude e do poder do Espírito Santo. Uma melhor analogia pode ser um balão, o qual pode estar “cheio” de ar, embora, contendo muito pouco ar. Quando mais ar é soprado, o balão se expande e, de certa forma, fica “mais cheio.” O mesmo ocorre conosco: podemos estar cheios do Espírito Santo e ao mesmo tempo podemos receber muito mais do Espírito Santo também.  Foi somente à Jesus a quem o Pai deu o Espírito sem medida (João 3:34).”9

Terceiro, o cristão é incumbido de exibir o fruto do Espírito. Uma conversão autêntica é experimentada através da exibição de bons, e não maus frutos. Ao falar de falsos profetas em Mateus 7:16-20, Jesus explicou a diferença:

“Pelos seus frutos vocês os conhecerão. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de ervas daninhas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons, porém a árvore má produz frutos maus. A árvore boa não pode produzir frutos maus, e a árvore má não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e jogada no fogo. Assim pois, pelos seus frutos vocês os conhecerão.”

Ele também disse em João 15:7-8: “Se permanecerem em mim, e as minhas palavras em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será feito.

Nisto é glorificado o meu Pai: que vocês deem muito fruto; assim mostrarão que são meus discípulos.”

Enquanto isso, Romanos 7:4-5 diz: “Assim, meus irmãos, também vocês morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo, para que pertençam a outro, a saber, àquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas despertadas pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte.”

De acordo com Gálatas 5:16-17, as paixões pecaminosas são contrárias aos desejos do Espírito. Paulo admoestou os crentes a “viver no Espírito e vocês jamais satisfarão os desejos da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito luta contra a carne, porque são opostos entre si, para que vocês não façam o que querem.” Ele então forneceu uma lista das “obras da carne” nos versículos 19-21, incluindo “imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizade, rixas, ciúmes, ira, discórdias, divisões, invejas, embriaguez, orgias, e coisas semelhantes a estas. “Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus.” O versículo 24 diz, “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos.” Outra lista de pecados que precisam ser eliminados, pode ser encontrada em Colossenses 3:5-9.

Como um substituto para esses desejos pecaminosos, o fruto do Espírito é dado: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” (Gálatas 5:22-23). Outras advertências são dadas nos seguintes versículos:

• Efésios 4:24: os cristãos devem “se revestir da nova natureza.”
• Colossenses 3:12-16 comanda a “revestirem-se de profunda compaixão, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, …Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, …Que a paz de Cristo seja o árbitro no coração de vocês… E sejam agradecidos. Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão no coração.”

• Tito 3:14: “E quanto aos nossos, que aprendam também a se empenhar na prática de boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos.”
• Filipenses 4:8: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês.”
• 1 Timóteo 6:11b: “Siga a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão.”

Em outras palavras, a ação por parte de cada indivíduo cristão é crucial. Como disse J.I. Packer, “o lema do cristão não deve ser ‘Largue e entregue a Deus’, mas ‘Confie em Deus e vá em frente!’”10

Finalmente, há os dons do Espírito, que são fornecidos por Deus para edificar os outros. Estes incluem serviço, ensino, doação e sabedoria, entre outros (Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:4-11; Efésios 4:11; 1 Pedro 4:10-11). Ninguém possui todos os dons disponíveis, mas cada um tem pelo menos um que é dado por Deus (1 Coríntios12:11). Embora haja um debate interno na igreja sobre a validade dos dons milagrosos (incluindo línguas, cura e profecia) para hoje, não há como contestar que o Espírito Santo permanece ativo na igreja.

O PRESENTE DE US$ 10 MILHÕES: PARTE 2

Os santos dos últimos dias geralmente têm dificuldade em entender a posição cristã evangélica sobre a fé e o papel das boas obras. Quando Joan e eu estávamos na calçada pública do lado de fora do templo SUD de Ogden, decidi perguntar a ela se eu poderia contar-lhe a estória sobre o presente de dez milhões de dólares, que o avô amoroso deu ao seu neto, como apresentada no capítulo prévio. Após o incidente que o neto teve com a senhora do caixa no banco, eu perguntei a Joan se ela poderia prever qual seria a reação dele, ao descobrir que havia dez milhões em sua conta.

 “Tenho certeza de que ele ficaria em êxtase”, disse ela.

“Você acha que o rapaz iria até a casa do avô, picharia a porta da garagem, jogaria veneno para matar sua grama e chutaria o cachorro dele?” Perguntei.

Joana olhou para mim como se eu tivesse perdido meu cérebro.

“Isso é ridículo”, disse ela. “Por que ele faria isso? Alguém que recebeu um presente tão grande não sairia propositalmente de seu caminho para ser tão mesquinho.”

“Concordo”, respondi. “No mínimo, aposto que o rapaz foi para casa e escreveu um cartão de agradecimento.”

Ela olhou para mim e balançou a cabeça. “Não, esse presente merece muito mais resposta. Aposto que ele iria direto para a casa do avô para dar-lhe um grande abraço.”

“Ok, então suponhamos que depois daquele grande abraço, o rapaz perguntou ao avô se havia algo que ele precisava. Olhando ao redor, o avô olhou pela janela da cozinha e apontou para a grama do quintal que precisava ser cortada. Ele disse ao neto que o serviço de manutenção do gramado teve que ser cancelado porque ele havia dado a maior parte de seu patrimônio para o menino e não tinha mais condições de arcar com a despesa extra.

“Qualquer pessoa racional aproveitaria esta oportunidade para ajudar um benfeitor tão generoso como este avô”, continuei. “Então, aquele rapaz decidiu tirar a poeira do cortador de grama e começar a trabalhar. Tanto que decidiu visitar a casa do avô todas as semanas no ano seguinte, cuidando do trabalho do quintal na maior parte do ano, colhendo folhas no outono e tirando a neve da calçada no inverno.” Fiz uma pausa e perguntei: “E se, depois que o ano acabasse, esse mesmo rapaz fosse até o avô e dissesse: ‘OK, já estou quite’?”

“Mesmo que o moço viesse toda semana por um ano, isso não seria suficiente para pagar dez milhões de dólares”, disse Joan.

Ela estava certa. Não havia como esse rapaz trabalhar duro o suficiente para pagar pelo presente. Da mesma forma, um cristão nunca pode retribuir a salvação fornecida por Deus. A estória parecia fazer sentido para Joana, mas ela ainda estava um pouco confusa.

“Pelo que você está dizendo, você faz parecer que não acha que boas obras importam”, disse ela.

Eu certamente não queria que ela entendesse mal. Nada pode ser feito para se ganhar o perdão dos pecados, mas boas obras são ordenadas no papel da santificação. Como o profeta Samuel disse a Saul em 1 Samuel 15:22:

“Porém Samuel disse: “Será que o Senhor tem mais prazer em holocaustos e sacrifícios do que no obedecer à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que sacrificar, e o ouvir é melhor do que a gordura de carneiros.”11

O Salmo 119 é o capítulo mais longo da Bíblia, com um total de 176 versículos. Contém oito versículos para cada uma das vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Cada versículo usa termos como leis, estatutos, caminhos, preceitos e decretos para enfatizar a importância de guardar os mandamentos de Deus .12

Ao entender mal o papel adequado das obras na vida do cristão, no entanto, muitos santos dos últimos dias, como Joan, assumem que os cristãos evangélicos acreditam que são livres para serem tão maus quanto quiserem ser. Afinal, eles se perguntam, que incentivo haveria para uma pessoa que tem a salvação garantida, parar de pecar? Dietrich Bonhoeffer cunhou o termo ” graça barata” para se referir à “pregação do perdão sem exigir arrependimento, batismo sem disciplina da igreja, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem cruz, graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado.”13 Em seguida, ele passou a explicar a “graça cara”:

“Tal graça custa caro porque nos chama a seguir, e é graça porque nos chama a seguir a Jesus Cristo. É caro porque custa a vida de um homem, e é graça porque dá a um homem a única vida verdadeira. É caro porque condena o pecado, e é graça porque justifica o pecador. Acima de tudo, écaro porque custou a Deus a vida de seu Filho: ‘vocês foram comprados por preço’ e o que custou para Deus não poder ser barato para nós. Acima de tudo, é graça porque Deus não considerou o seu Filho um preço muito caro a pagar pela nossa vida, mas o entregou por nós. A graça dispendiosa é a Encarnação de Deus.”14

A graça barata não compreende o significado da cruz, que Bonhoeffer disse ter sido “a ruína de mais cristãos do que qualquer encomenda de obras.”15 Ele acrescentou: “A obediência permanece separada da fé. Do ponto de vista da justificação é necessário, portanto, separá-los, mas nunca devemos perder de vista a sua unidade essencial. Pois a fé só é real quando há obediência, nunca sem ela, e a fé só se torna fé no ato de obediência.”16

A ideia de que os cristãos acreditam que podem ser tão ruins quanto quiserem não é um conceito bíblico, mas a Palavra de Deus está repleta de comandos para fugir do pecado. Romanos 6:1-2 deixa isso claro: “Que diremos, então? Continuaremos no pecado para que a graça aumente ainda mais? De modo nenhum! Como viveremos no pecado, nós, que já morremos para ele?”  O versículo 15 acrescenta, “E então? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” Para o verdadeiro crente, o pecado não é mais considerado o mestre. Outros versículos deste capítulo em Romanos confirmam essa ideia:

• 6:6-7: “sabendo isto: que a nossa velha natureza foi crucificada com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos mais escravos do pecado. Pois quem morreu está justificado do pecado.”
• 6:11-14: “Assim também vocês considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Portanto, não permitam que o pecado reine em seu corpo mortal, fazendo com que vocês obedeçam às suas paixões. Também não ofereçam os membros do corpo ao pecado, como instrumentos de injustiça, mas, como pessoas que passaram da morte para a vida, ofereçam a si mesmos a Deus e ofereçam os seus membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vocês, pois vocês não estão debaixo da lei, e sim da graça.”
• 6:19: “Assim como ofereceram os seus membros para que fossem escravos da impureza e maldade que leva à maldade, assim ofereçam agora os seus membros para que sejam servos da justiça para a santificação.”

Wayne Grudem fornece um bom resumo para Romanos 6 quando ele escreve, “Essa ruptura inicial com o pecado, então, envolve uma reorientação de nossos desejos para que não tenhamos mais um amor dominante pelo pecado em nossas vidas. Paulo sabe que seus leitores já foram escravos do pecado (como todos os incrédulos são), mas ele diz que eles já não são mais escravizados.”17 Enquanto os cristãos irão ter dificuldades em ter a atitude certa e fazer as coisas certas, isso não significa que eles devem se contentar em permanecer em seus desejos carnais. John Piper afirma claramente, “Ninguém deve dizer, ‘Sou justificado pela fé; portanto, não preciso obedecer aos mandamentos de Deus. Essa atitude é um sinal de que o coração de uma pessoa não foi penetrado pela verdadeira natureza da fé que nos justifica.”18 Como disse J.C. Ryle, bispo de Liverpool, Inglaterra, do século XIX, “Se você e o pecado são amigos, você e Deus ainda não estão reconciliados.”19

Paulo ensina em Romanos 7:15-20 que tornar-se cristão não é uma fórmula mágica que eliminará a natureza pecaminosa:

“Porque nem mesmo compreendo o meu modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero concordo com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isso já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.”

No versículo 24, Paulo acrescentou, “Quem me livrará deste corpo de morte?” Muitos santos dos últimos dias fiéis se esforçam para fazer as coisas certas, mas ficam desapontados quando seus esforços continuamente falham.

Spencer W. Kimball disse que “está ao seu alcance erguer-se por seus próprios esforços, do plano em que se encontra para o plano em que deveria estar. Pode ser um levantar que seja longo, duro, com muitos obstáculos, mas é uma possibilidade real.”20 O décimo presidente mórmon Joseph Fielding Smith ensinou:

“Tudo o que podemos fazer por nós mesmos somos obrigados a fazer. Devemos nos arrepender; somos obrigados a obedecer a todos os mandamentos e a viver de acordo com cada palavra que procede da boca de Deus. Se fizermos isso, então estaremos livres das consequências de nossos próprios pecados. O plano de salvação baseia-se nesse fundamento. Nenhum homem pode ser salvo sem cumprir essas leis.”21

A resposta dessas duas autoridades gerais é muito diferente do que Paulo disse em Romanos 7:25 para explicar como o cristão é livrado da morte “através de Jesus Cristo nosso Senhor!” E então, em Romanos 8: 1-2, Paulo promete: “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte.” Viver da maneira que Deus pretende que façamos exige esforço, através de Deus nos dar o poder para tal. Como diz Hebreus 13:20-21, Deus “aperfeiçoe vocês em todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em nós o que é agradável diante dele.” Este conforto é fornecido para que os cristãos possam encorajar a outros (2 Coríntios 1:3-4).

Ainda assim, haverá muita oposição à busca da santidade pelo cristão, tanto no plano físico quanto no espiritual. De acordo com Efésios 6:11-12, os cristãos foram providos “com toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do diabo.” Esta armadura inclui o cinto da verdade (v.14a), a couraça da justiça, (v. 14b), calçados com o evangelho da paz, (v.15), o escudo da fé, com o qual poderão “apagar todos os dardos inflamados do Maligno” (v.16), o capacete da salvação (v.17), e “a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.” Finalmente, há a capacidade de orar “em todo o tempo no Espírito.” (v.18).

Romanos 12:1 orienta os cristãos que “ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.”

Assim como os animais para sacrifícios eram destinados à morte, assim também o cristão foi chamado para ser “morto para o pecado”, como citado acima em Romanos 6:11-14. Os crentes são instruídos a não viver “conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2). Isso porque os cristãos devem se considerar como “peregrinos e forasteiros.” (1 Pedro 2:11).

Romanos 13:14 é um mandamento direto de como o cristão deve viver: “Mas revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não façam nada que venha a satisfazer os desejos da carne.” Até que uma pessoa decida não se conformar com os caminhos deste mundo, o contentamento nunca será encontrado. A Bíblia deixa claro que seguir a vontade de Deus em vez de ir atrás dos desejos carnais é a chave para uma vida vitoriosa.

ARREPENDIMENTO, BATISMO E A CEIA DO SENHOR

Neste ponto, Joan decidiu trazer à tona Atos 2:38, que diz: “Pedro respondeu: ­­–Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo.”

“Isso não mostra que o batismo é um requisito para a salvação?”, perguntou.

Atos 2:38 precisa ser considerado em seu contexto. Primeiro, arrependimento é sentir tristeza pelo pecado e repudiá-lo, com a determinação de obedecer. Segundo Coríntios 7:10 afirma, “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz a morte.” Quando uma pessoa crê, o arrependimento dos pecados é necessário, como descrito por J.I. Packer:

“No Novo Testamento, a palavra “arrependimento” significa mudar a mente para que os pontos de vista, valores, metas e maneiras de um indivíduo sejam mudados, e sua vida seja vivida de forma diferente. A mudança é radical, tanto interna quanto externamente; mente e julgamento, vontade e afetos, comportamento e estilo de vida, motivos e propósitos, estão todos envolvidos. Arrepender-se significa começar uma nova vida.”22

Grudem escreve que:

“O arrependimento genuíno resultará em uma vida transformada. Na verdade, uma pessoa verdadeiramente arrependida começará imediatamente a viver uma vida transformada, e podemos chamar essa vida transformada de fruto do arrependimento. Mas nunca devemos tentar exigir que haja um período em que uma pessoa realmente viva uma vida transformada, antes de darmos a certeza do perdão. O arrependimento é algo que ocorre no coração e envolve o todo de uma pessoa na decisão de se afastar do pecado…Quando nos voltamos para Cristo para a salvação de nossos pecados, estamos simultaneamente nos afastando dos pecados dos quais estamos pedindo a Cristo para nos salvar. Se isso não fosse verdade, nosso voltar a Cristo para a salvação do pecado dificilmente poderia ser um genuíno voltar-se para Ele ou confiar Nele.”23

Aqueles que acreditam que o batismo é um requisito para a salvação, creem na “regeneração batismal”. Joan trouxe Atos 2:38 em apoio a essa visão. Em resposta, alguns estudiosos gregos – incluindo Julius Mantey e A.T. Robertson – dizem a palavra para (Grego eis, pronunciado “àis”) pode significar “por causa de.”24 Um uso semelhante é encontrado em Mateus 12:41. O versículo diz: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas.” Será que os ninivitas se arrependeram para obter a pregação de Jonas? Ou se arrependeram por causa da pregação dele?

Ao discutir Atos 2:38, o estudioso do Novo Testamento Daniel Wallace adota uma abordagem ligeiramente diferente ao fazer referência a Atos 10:44-46. Esta passagem afirma como “também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo,” permitindo que eles falassem usando o dom de línguas. Quando Pedro observou esse fenômeno, ele ordenou que os gentios fossem batizados (v. 48), mesmo que já tivessem o dom do Espírito Santo. O batismo na água veio depois desse evento, não antes.

H. Wayne House escreve, “O incidente na casa de Cornélio apresenta sérios problemas para a regeneração batismal.”25 Mais tarde, ao defender suas ações para a igreja em Jerusalém, Pedro acrescenta: “Pois, se Deus deu a eles o mesmo dom que tinha dado a nós quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (Atos 11:17)

Assim, foi através da crença dos cristãos, não do batismo, que o Espírito Santo entrou na vida dos crentes. 1 Coríntios 12:13 diz: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” O batismo aqui referido é o batismo do Espírito, não o batismo pela água, como descrito por Gordon Fee:

“Por causa do verbo “batizar”, muitas vezes se supõe que Paulo está se referindo ao sacramento do batismo na água, e então muitas vezes se argumenta ainda que este texto apoia o vínculo estreito da recepção do Espírito com o próprio batismo. Mas isso pressupõe mais do que realmente se diz. Embora seja verdade que desde cedo esse verbo se tornou o termo técnico para o rito iniciático cristão, não se pode supor que Paulo pretendia seu sentido técnico aqui…é difícil encontrar uma equação entre o batismo e a recepção do Espírito nas cartas de Paulo. Supõe-se que ambos estejam no início da experiência cristã, com certeza; mas os dois não estão especificamente ligados de tal forma que o Espírito seja recebido no batismo.”26

Um outro ponto a respeito de Atos 2:38 é que Pedro deu um sermão diferente para um novo público no capítulo seguinte e não mencionou o batismo. Ele ordenou a seus ouvintes que se arrependessem “para que sejam cancelados os seus pecados” (Atos 3:19). Se o batismo é necessário para a salvação, deixar o conceito de fora no próximo sermão para um novo público parece algo inconsistente.

Outra passagem frequentemente usada para apoiar a regeneração batismal é Romanos 6:3-4. Ele diz: “Ou será que vocês ignoram que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida.”

Quando o convertido está imerso na água, o simbolismo é a morte (ir para o túmulo). A pessoa batizada que sai da água simboliza ser levantada da sepultura. Uma pessoa é figurativamente, enterrada com Cristo e ressuscitada, para se tornar uma nova criação espiritual. Pode ser comparado a uma lagarta não mais forçada a comer folhas insípidas. Através de uma metamorfose, o inseto transformado fica livre para voar e tem desejo de néctar, uma dieta muito mais saborosa.27

Há outras razões bíblicas pelas quais os cristãos não acreditam que o batismo é um requisito para o perdão dos pecados. Como mostrado no capítulo anterior, há múltiplos versículos que declaram que as obras de uma pessoa são incapazes de purificar o pecado. Além disso, o apóstolo Paulo disse em 1 Coríntios 1:14-15 que era grato a Deus pelo fato de não batizar normalmente convertidos, deixando claro no versículo 17 que “Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho.”  Se o batismo é um requisito para o perdão dos pecados, sua admissão não faz sentido. Até onde sabemos, nem mesmo Jesus batizou ninguém durante Seu ministério. Wayne Grudem escreve: “Dizer que o batismo ou qualquer outra ação é necessária para a salvação é dizer que não somos justificados apenas pela fé, mas pela fé e mais uma certa ‘obra’, a obra do batismo. O apóstolo Paulo teria se oposto à ideia de que o batismo é necessário para a salvação tão fortemente quanto ele se opôs à ideia semelhante de que a circuncisão era necessária para a salvação (ver Gálatas 5:1-2).”28 Millard Erickson acrescenta que “o batismo pressupõe a fé e a salvação a que a fé conduz. É, portanto, um testemunho de que a regeneração já ocorreu. Se há um benefício espiritual, é o fato de que o batismo nos leva a ser membros ou participantes da igreja local.”29

Ao mesmo tempo, os cristãos enfatizam (ou pelo menos deveriam) a importância do batismo no papel da santificação. Jesus foi batizado como um exemplo para Seus seguidores. Como diz G.R. Beasley-Murray, esse ato foi “seu primeiro passo para carregar os pecados do mundo.”30 O propósito do batismo, então, “é um ato público e aberto que expressa decisão e intenção interiores; uma vez que é realizada a céu aberto, e não em segredo, torna-se por sua natureza uma confissão de fé e fidelidade abraçada… Se o batismo é um “instrumento de rendição” por alguém conquistado pelo amor de Cristo, é igualmente o acolhimento gracioso do pecador pelo Senhor que o buscou e encontrou.”31

Toda vez que uma pessoa demonstrava fé no Novo Testamento, o batismo parecia ser a resposta imediata. Por exemplo, Atos 2:41 diz que “os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados” (ver também Atos 16: 14-15,32-33; 1 Coríntios 1:16). Assim como o neto que recebeu o enorme presente do avô teve o prazer de cortar a grama para ele, é um privilégio fazer a coisa certa. Realmente é simples assim. Não há nenhuma qualificação ou compensação a ser ganha através do batismo. Bonhoeffer escreveu,

“Quando chamou os homens para segui-lo, Jesus os convocou para um ato visível de obediência. Seguir Jesus era um ato público.  O batismo é igualmente um evento público, pois é o meio pelo qual um membro é enxertado no corpo visível de Cristo (Gal. 3:27f; 1 Cor. 12:13). A ruptura com o mundo que se fez em Cristo não pode mais permanecer oculta, ela deve vir à tona através da adesão à Igreja e da participação em sua vida e adoração. Quando ele se junta à Igreja, o cristão sai do mundo, do seu trabalho e da sua família, assumindo visivelmente a sua posição na comunhão de Jesus Cristo.”32

Quanto ao modo de batismo, existem três métodos diferentes praticados pelos cristãos: imersão (submersão completa em água), derramamento, (derramar água sobre a cabeça) e aspersão (aspersão de água). Algumas igrejas borrifam água levemente sobre a cabeça de uma criança, mesmo quando a crença pessoal não foi exibida. Outras igrejas preferem reservar o batismo para aqueles que professaram a fé em Cristo, que é chamado de batismo do crente. Este modo elimina os bebês, pois envolve a imersão como um símbolo da nova vida que ocorreu, já que a palavra grega para batismo significa imergir ou mergulhar. Colossenses 2:12 diz que os cristãos têm “sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual vocês também foram ressuscitados por meio da fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.”

O batismo é algo feito para obter justificação e perdão dos pecados? Não. É algo feito por causa da justificação e do perdão dos pecados. Se você é um cristão que não foi batizado, considere conversar com seu pastor sobre isso, mesmo que você já tenha sido batizado na Igreja SUD.

A segunda ordenança praticada nas igrejas evangélicas é a comunhão, também conhecida como eucaristia. Isso também é chamado de Ceia do Senhor, já que Jesus serviu pão e vinho a Seus discípulos na noite anterior à sua morte (Mateus 26:26-29). Observar a comunhão comemora o evento e permite a unidade dos crentes cristãos ao participarem dela juntos.  Ao contrário do sacramento SUD semanal, onde a água e o pão são os elementos, as congregações cristãs protestantes geralmente usam pão ou bolachas e suco de uva ou vinho para os elementos. Essa ordenança é celebrada nas igrejas cristãs locais, seja semanalmente, mensalmente ou trimestralmente. É feito para simbolizar a morte de Jesus, com o pão ou hóstia representando Seu corpo e o suco de uva ou vinho simbolizando Seu sangue.33 Paulo diz em 1 Coríntios 11:23-26:

“Porque eu recebi do Senhor o que também lhes entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou um pão e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vocês; façam isto em memória de mim.” Do mesmo modo, depois da ceia, pegou também o cálice, dizendo: “este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, todas as vezes que o beberem, em memória de mim.” Porque todas as vezes que comerem este pão e beberem o cálice, vocês anunciam a morte do Senhor, até que ele venha.”

Os elementos fornecem um simbolismo poderoso nesta cerimônia séria. Grudem mostra como Jesus afirma Seu amor através da comunhão:

“O fato de eu poder participar da Ceia do Senhor – na verdade, que Jesus me convida a vir—é um lembrete vívido e uma garantia visual de que Jesus Cristo me ama, individual e pessoalmente. Quando venho tomar a Ceia do Senhor, encontro, repetidas vezes, a certeza do amor pessoal de Cristo por mim… Quando venho a convite de Cristo para a Ceia do Senhor, o fato de Ele ter me convidado para sua presença, me assegura que Ele tem bênçãos abundantes para mim. Nesta Ceia, estou realmente comendo e bebendo em uma prévia da grande mesa de banquetes do Rei. Venho à sua mesa como membro da sua família eterna. Quando o Senhor me recebe nesta mesa, Ele me garante que me acolherá em todas as outras bênçãos da terra e do céu também, e especialmente à grande ceia das bodas do Cordeiro, na qual me foi reservado um lugar.”34

Participar dessa ordenança deve ser feito com grande reverência, como Paulo ordenou em 1 Coríntios 11:27-28. Nos versículos 29-30, ele disse que a doença e a morte podem ser o resultado se a comunhão for tomada de maneira errada. Muitos pastores podem explicar isso antes de distribuir os elementos, enfatizando que a ordenança é apenas para os crentes.

CONCLUSÃO

A conversa com Joan estava terminando, e eu queria apresentar uma versão rápida do evangelho.

“É possível saber que você tem a vida eterna. João escreveu em 1 João 5:13: ‘estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna.’ João não disse ‘você pode pensar’ ou ‘você pode esperar’, mas sim ‘você pode saber que tem a vida eterna’. Não há como se apossar da “paz de Deus, que excede todo o entendimento”, como descrito em Filipenses 4:7, a menos que haja uma certeza de salvação. E eu quero que você tenha essa garantia. Mas é preciso confiar em Jesus e não em suas obras. Você nunca será capaz de fazer o suficiente para cobrir seu pecado.”

Quanto à certeza da salvação, Keller faz uma grande observação:

“A certeza da salvação não é possível se pensarmos que devemos ganhar ou mesmo manter nossa salvação por meio de nossos esforços. Se nos mantivemos salvos por uma boa vida, como podemos ter certeza de que estamos sendo bons o suficiente para reter o favor de Deus? No entanto, a Bíblia costuma dizer que nós, cristãos, podemos saber que somos salvos e estamos seguros (por exemplo: 1 João 2:3). Em outras palavras, não ganhamos nossa salvação por nosso comportamento, e não podemos “desgalhá-la” por nosso comportamento.”35

Joana não estava pronta para tomar um compromisso. É improvável que uma pessoa mude sua mentalidade de “fazer melhor e ser melhor” da noite para o dia. Se nada mais, eu queria que ela soubesse que os cristãos não minimizam o fruto espiritual que Jesus disse que eles deveriam ter. Talvez o próximo cristão que ela encontrasse pudesse acompanhar e continuar uma discussão sobre o evangelho com ela. Talvez o próximo cristão na fila seja você?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Como Tiago 2:20 e 26 pode ser reconciliado com Efésios 2:8-9? Qual o papel das obras na vida do cristão??
2. Suponha que alguém lhe disse, “Não preciso fazer boas obras porque sou salvo pela fé.” Se esse crente sentisse que há liberdade para pecar deliberadamente como cristão, como você responderia usando um ponto de vista bíblico?
3. Na ilustração de dez milhões de dólares, o adolescente pode ter pensado que havia pagado pelo seu “presente” e “merecido” os dez milhões. Faça o papel do avô quando ele se inteira disso. Qual seria uma resposta apropriada para ajudar o menino a aprender de tal entendimento?
4. Qual o papel do batismo na vida do crente? Quando se trata do modo de batismo, você prefere aspergir, derramar ou imergir em água? Por quê?
5. Por que celebrar a Ceia do Senhor é importante? Qual é o simbolismo por trás dos elementos?

RECURSO RECOMENDADO

Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (New York: Collier Books, 1963).

CAPÍTULO 9—SANTIFICAÇÃO UMA VIDA MARCADA POR BOAS OBRAS

1. Ver Levítico11:44-45; 19:2; 20:7; 1 Pedro 1:15-16.
2. Timothy Keller, Galatians for You (Epsom, UK: Good Book Company, 2013), 143.
3. R.C. Sproul, What Do Jesus’ Parables Mean? (Orlando, FL: Reformation Trust, 2017), 31.
4. J.I. Packer, Keep in Step with the Spirit (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1984), 26-27.
5. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (New York: Collier Books, 1963), 333.
6. Packer, Keep in Step with the Spirit, 91. Elipse minha.
7. John Piper, Providence (Wheaton, IL: Crossway, 2020), 626. Itálico no original. Elipse minha.
8. Independentemente da visão de cada um sobre os dons visíveis—incluindo línguas, interpretação de línguas, cura, milagres, e profecias—a Bíblia nunca ensina que uma pessoa deve falar em línguas (ou exercer qualquer um desses outros dons) para ser considerado um crente batizado pelo Espírito. Paulo escreveu em 1 Coríntios 13 que o amor supera os dons de línguas e profecias. No capítulo seguinte, ele ensinou como seria melhor para alguém “falar cinco palavras” de forma inteligente “do que dez mil palavras numa língua”(v. 19).
9. Wayne Grudem, Systematic Theology: An Introduction to Biblical Doctrine (Grand Rapids, MI: Zondervan Academic, 1994), 782.
10. Packer, Keep in Step with the Spirit, 157.
11. Veja também Oséias 6:3-6 e Miquéias 6:6-8.
12. Tantos outros versículos apoiam a ideia de que boas obras seguirão a crença, incluindo Isaías1:17; João 14:15,21; 1 Coríntios 15:58; 2 Coríntios 9:8; Colossenses 3:23-24; Tito 2:7; 3:14; Hebreus10:24-25; 1 João 2:4; 2 João 6; 3 João 4,11.
13. Bonhoeffer, The Cost of Discipleship, 47.
14. Ibid., 47-48. Itálico no original.
15. Ibid., 59.
16. Ibid., 69.
17. Grudem, Systematic Theology, 748.
18. Piper, Providence, 593.
19. J.C. Ryle, Old Paths (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1999), 199-200.
20. Doutrinas do Evangelho Manual do Aluno (Religion 430 and 431) (Salt Lake City, UT: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1986), 52.
21. Joseph Fielding Smith, The Way to Perfection (Salt Lake City, UT: Deseret Publishing, 1984), 172.
22. J.I. Packer, Concise Theology: A Guide to Historic Christian Beliefs (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 1993), 162.
23. Grudem, Systematic Theology, 713-14. Itálico no original. Elipse minha.
24. A construção é chamada de “acusativa de causa”, em que “o substantivo indica o fundamento da ação. Ela responde à pergunta: Por quê?” James A. Brooks and Carlton L. Winbery, Syntax of New Testament Greek (Lanham, MD: University Press of American, 1988), 60.
25. H. Wayne House, “Baptism for the Forgiveness of Sins (Part 2),” Christian Research Journal, vol. 22, no. 3, 2000.
26. Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1987), 604. Itálico no original. Elipse minha.
27. Para várias outras passagens comuns usadas pelos regeneradores batismais, ver capítulo13 in Bill McKeever and Eric Johnson, Mormonism 101: Examining the Religion of the Latter-day Saints (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2015).
28. Grudem, Systematic Theology, 981.
29. Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986) 3:1096. Itálico no original.
30. G.R. Beasley-Murray, Baptism in the New Testament (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1990), 49.
31. Ibid., 101-2
32. Bonhoeffer, The Cost of Discipleship, 259-60. O papel da Igreja será coberto no capítulo 10.
33. É difícil entender como a água usada no sacramento SUD é suposta de representar o sangue de Jesus.
34. Grude, Systematic Theology, 991. Itálico no original. Elipse minha.
35. Timothy Keller, Galatians for You (Epsom, UK: Good Book Company, 2013), 134. Para responder as perguntas se a salvação pode ser perdida, ver “Is It Possible for Christians to Lose Their Salvation?” em mrm.org/lose-salvation.